quinta-feira, março 15, 2007

De Alberto Caeiro



Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.

Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

terça-feira, março 13, 2007


Pine tree tops

Gary Snyder



In the blue night
frost haze, the sky glows
with the moon
pine tree tops
bend snow-blue, fade
into sky, frost, starlight.
The creak of boots.
Rabbit tracks, deer tracks,
what do we know.







segunda-feira, março 12, 2007


SOL




na tarde amarela

um bem-te-vi

ciscou meu sonho






samira feldman marzochi
barão geraldo, 1996

domingo, março 11, 2007


Hai ñ cai

Juli Manzi


O vento, as folhas
os montes, uma libélula
As árvores, os vales
as flores
um não-sei-o-nome voa e fica transparente ante o sol



***


Súbito,
numa fria manhã:
- Torvelinho
novelinho de hortelã