quarta-feira, junho 23, 2021

Reflexo


Dizem que bebo, é verdade.

Um sorriso esquecido,

Um sonho, uma voz.


Bebo a luz na parede, 

O vento nas folhas

E algumas palavras do livro.


O encontro infinito,

A despedida do início,

O sono profundo e a manhã.


O inesperado, o intempestivo

E os silêncios orquestrados

Antes da chuva.


Bebo o rio e as montanhas,

A bruma, a ilha, o vulcão de gelo.


Bebo a jangada que flutua,

Azul, brisa e espuma. 


Não bebo a ti, 

mas o sol do deserto 

na tua ausência.



Edward Soesterberg, 

Rio de Janeiro, 1982. 

Tradução: Maria Clara Neiva