Lapis Lazuli
Em uma cultura muito antiga, sem nome conhecido, da região
que posteriormente fora conquistada pelos nabateus, havia um mito, de registro
encontrado na Suméria pelos gregos e depois traduzido pelos mouros da Península
Ibérica, que explicava o, digamos, interesse afetivo. Todos os indivíduos
nasceriam com uma entidade semiautônoma e invisível aos seres humanos, ligada à
espinha dorsal, que poderia ou não subdividir-se em um bom número. Estas
entidades, ressentidas por terem nascido nuas, amorfas e invisíveis, tenderiam a
procurar corpos de outras pessoas para se vestirem deles, sem nenhuma espécie
de consulta ou consentimento. Os indivíduos, deste modo, poderiam reconhecer em
outros essências muito particulares, ligando-se a estes de modo recíproco ou
desencontrado. Por isso, os sábios desta cultura ensinavam a desfazer os
encantos afetivos malogrados batendo duas pedras azuis, uma contra a outra, a fim
de romper o cordão que prendia a entidade, até que uma nova, após semanas ou
meses, crescesse novamente. Contudo, o procedimento não poderia ser refeito
mais de sete vezes, pois a entidade, que não tinha mais que sete vidas,
vestir-se-ia, definitivamente, do corpo que lhe deu origem.
Samira Feldman Marzochi, Mitos Inventados.


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