sexta-feira, fevereiro 24, 2006

CARNAVAL

É carnaval
e a noite dói
roxa e vazia

Os mesmos apitos
agogôs
gritos
da solidão
secular

É carnaval
e engulo seco
sem fome
o frio da alma

A brisa do sonho
a escuridão do céu
e o mar

É carnaval
e minha condição
clama

Um fósforo aceso
uma vela
um beijo
sol deus
amar


Samira Feldman Marzochi

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

JANELA















Por trás de asas translúcidas
voam automóveis, sacodem fábricas

Tuas asas são lentes
pelas quais vejo diferente
a paisagem

O contraste da calma
teu não-querer inconteste

Tudo ganha um ocre profundo
que me exige palavras
sobre tela

Borboleta pequenina e feia
modificada
Abraças o campo riscado de metais
e sabes que tua ligação natural
é mais tênue

Estendo os braços e vôo
tela de vidro em que me aplico
com patinhas de grude
e coração de inseto

Acompanho esse ver sem mira
sem meta
ver-estar-permanecer
amor em tudo

Irradia teu pensamento, borboleta
ao que existe

Os que passam velozes romperão no espaço
do desprendimento



Samira Feldman Marzochi