CRÍTICA DA RAZÃO PURA
Atrás desse muro de heras,
há uma floresta escura
onde enterrei meu coração.
Tentei buscá-lo mil vezes,
nestes últimos meses,
mas o medo m'impediu.
Sinto frio, tenho arrepio
de sair entre árvores, galhos,
orvalho, ruídos, escuridão.
E quem sabe uma coruja,
ruiva e obtusa,
irá fitar-me, a medusa,
ou cravar as unhas sujas
onde não há coração?
Melhor deixá-lo por lá,
quieto, morto, infecto,
livre dos desafetos
e também das amarguras.
Deixá-lo-ei encher da lama
e servir de abrigo às lesmas
dos insetos.
Afinal, é carne pura.
Eu, deste lado, me seco
e vôo leve, vazia,
pelas planícies do dia
iluminadas de razão.
Prefiro viver nas alturas,
apreciar as alvuras
e esquecer aquele triste
beberrão.
Samira Feldman Marzochi
Rio, 15 de janeiro de 2003.


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