sábado, novembro 03, 2007











I ENCONTRO DE MÚSICA IMPROVISADA - UNICAMP

De 05 a 08 de novembro - 2007
Espaço Cultural Casa do Lago
Entrada Franca

Organização e curadoria
Giuliano Tosin (Juli Manzi)
Marco Scarassatti

Colaboração
Denis Koishi
José Avelino Bezerra

Apoio
Instituto de Artes - UNICAMP
Profa. Dra. Sara Pereira Lopes – Diretora
Profa. Dra. Maria de Fátima Morethy Couto – Diretora Associada
Programa de Pós-Graduação em Música
Prof. Dr. Emerson Luiz de Biaggi - Coordenador

Agradecimentos
Prof. Dr. José Augusto Mannis
José Sieiro
Prof. Dr. Silvio Ferraz



APRESENTAÇÃO:

Dentre as múltiplas facetas musicais do panorama atual, um gênero/atitude proveniente, por um lado, das correntes vanguardistas experimentais da música erudita do século XX e, por outro, do alcance e forte influência que o jazz exerceu sobre músicos instrumentistas e compositores durante este século, agrega um número cada vez maior de adeptos, apaixonados diletantes, criadores, compositores e espectadores: a música improvisada,
Tanto na concepção da criação individual quanto na coletiva, a música improvisada lida com estruturas ordenadas, ao mesmo tempo em que está aberta para processos imediatistas e efêmeros. O resultado é um quase devir musical, com aspectos expressivos, gestuais e comunicacionais na relação intérprete-criador, instrumento ou instrumental diverso e público, proporcionando a este, outras oportunidades de percepção e recepção, diferentes das oportunizadas pela escuta massificada.
A idéia desse encontro de música improvisada é reunir músicos que atuam nessa vertente musical, possibilitando o intercâmbio, a troca e o diálogo musical entre esses músicos e o público.

Marco Scarassatti


Visite a Página do Evento na web:
http://www.preac.rei.unicamp.br/casadolago/prog.htm



** PROGRAMAÇÃO **



Dia 05/11 (segunda-feira)

12:00h. ABERTURA: Performance – Olho Caligari
Denis Koishi – baixo
Giuliano Tosin – voz
Julio Oliveira – guitarra
Marcel Rocha – guitarra
Marco Scarassatti – objetos e esculturas sonoras

14:00h. Sessão de vídeos
“GIG”, Paul Davies
John Stevens e Derek Bailey
1992, 50:25 min.
“RECORDING FIELD, H”
Interface (Curtis Bahn, Tomie Hahn, Dan Trueman) with Pauline Oliveros.
2003, 66:55 min

16:30h. Colóquio com os organizadores – Giuliano Tosin (IA/UNICAMP) e Marco Scarassatti (FE/UNICAMP)

19:30h. Performance – Taag Ignacio de Campos – live electronics Sergio Kafejian – live electronicsGiuliana Audrá – flautas

20:30h. Conversa com os improvisadores – Taag



Dia 06/11 (terça-feira) :

14:00h. Palestra com o Prof. Dr. Silvio Ferraz (IA/UNICAMP)

15:30h. Sessão de vídeos
“HAN BENNINK SOLO”, Wouter Hasbos
2000, 25 min
“SPIRITWORLD”, Jeff Schlanger
William Parker, Oluyemi Thomas, Lisa Sokolov e Joe Mc Phee
2005, 74:08 min

19:30h. Performance – Sônax
Marco Scarassatti – objetos e esculturas sonoras, viola de cocho e flautas
Nelson Pinton Filho – piano
Marcelo Bomfim – objetos e esculturas sonoras, viola de 10 cordas e flautas

20:30h. Conversa com os improvisadores – Sônax



Dia 07/11 (quarta-feira) :

14:00h. Sessão de vídeos
“STEP ACROSS THE BORDER”, Nicolas Humbert e Werner Penzel
Fred Frith and Friends
2003, 90 min

16:30h. Painel “Música improvisada e guitarra” com Julio Oliveira, Marcel Rocha e Paulo Hartmann

19:30h. Performance – Orchestra Descarrego
Denis Koishi – baixo
Giuliano Tosin – voz
Julio Oliveira – guitarra
Lucio Agra – bateria eletrônica e voz
Marcel Rocha – guitarra
Paulo Hartmann – guitarra
Participação especial: Loop B – percussão de sucata

20:30h. Conversa com os improvisadores – Orchestra Descarrego



Dia 08/11 (quinta-feira) :

10:00h. Palestra com o Prof. Dr. José Augusto Mannis (IA/UNICAMP)

12:00h. Performance – Duo Marco04 B
Henrique Iwao – Teclado e eletrônica
Lucas Araújo – Baixo elétrico

14:00h. Sessão de vídeos
“IRÈNE SCHWEISER”, Gitta Gsell
2006, 75 min
“CHRONICLE – Chicago Underground Trio”, Raymond Salvatore Hermon
Rob Mazurek, Chad Taylor e Jason Ajemian
2006, 72:55 min

16:30h. Conversa com os improvisadores – Duo Marco04 B

19:30h. Performance – Abaetetuba & Thomas Rohrer
Antonio Panda Gianfratti – percussão contemporânea e bateria
Rodrigo Montoya – violão e shamisen
Thomas Roher – saxofones e rabeca

20:30h. ENCERRAMENTO: Conversa com os improvisadores – Abaetetuba & Thomas Rohrer






POÊMA CEREBRAL

Saulo Marzochi


Cada vez que olho no espelho, esqueço da última coisa que estava pensando. Cada fio de cabelo, do pente ou do pentelho, olho e perco o meio, ou um outro par de meias. Enquanto ouço um riscar de isqueiro, lembro do último cigarro que estava fumando quando tirei o par de meias, mas agora não sei onde coloquei o pente, que estava usando quando perdi o fio da meada, ou do cabelo. Poderia estar em cima da pia molhada, ou embrulhado em alguma toalha, que agora lembro ter deixado sobre a cama, agora úmida, putz! Recém arrumada. Na cama a toalha não estava, só a marca de cheiro fresco e outro fio de pelo perdido da ninhada. Nada, de nada adianta ir cortar o cabelo, se não lembro mais onde fica o cerebelo, e se eles crescem de novo para mês em mês ir embora mais dez, quinze reais. Talvez não seja culpa do barbeiro, se aquele fio fosse de alguma pista da última vez que procurei revê-lo. E muitos pensamentos estão e são perdidos, gaveta sem fundo, baú de fundo aberto, e agora vivo revivendo aqueles dias todos que lembrei, aqueles pensamentos todos, que vivi e que perdi quando se foram por um ralo estreito. Pensamentos que uma vez pensei, voltarão a borbulhar do ralo, voltarão a gaveta como recém pensados e não me darei conta de que não terão novidade, serão gostos de arrotos, não terão o mesmo cheiro, cor, pulso de peito. Não terá volume, o ardor da primeira vez. Atormentava-me, idéia, de estar em dúvida sobre a própria lucidez. Se estava no lugar certo na hora errada, se estava na hora errada com a pessoa errada, se errava todos os dias, se falhava até no berro, na hora de necessitar, ou num pesadelo qualquer. E perco o traço, sei que perco o rastro, ao que percorro não há margem, pegadas se apagam onde passo e não sei como voltar, ou como encontrar o verbo. Some e me deixa apenas: Cadeira, Casa, João e Amarelo. Substantivos e adjetivos, sem ação pra ir nem para sair do meu voltar. Sigo sem lastro e sem querer, poder passar por uma trilha, um vapor, por onde andei, se foi me apagar, se foi submergir, se foi tornar possível diferenciar vida, sonho e pesadelo, se tudo é engano, ou na primeira, ou na última impressão. Sou cópia não autenticada do que gostaria de ser. Certeza, é uma flecha disparada que acerta em vôo, alvo, um, três, cinco centímetros do seu verdadeiro centro, senso ou êxito. Satisfação barata, verdade turva, dúvida, única coisa absoluta, dúvida, sólida e misteriosa como uma chave que por fora me tranca por dentro. Agora uma fresta resta para ver que lá outra criatura olha, porque sou a esquerda de uma direita, sou o neurótico que na superfície se enturva, sou dúvida disfarçada na simetria da certeza, sou aquele a quem no espelho dão as costas. Cada vez que olho no espelho vejo minha queda num abismo escuro. Está no fundo da pupila o negrume turvo que me embaça a vista e esgarça a imagem, ou será a própria retina distendendo uma miopia que desejo não saber, distorcendo a margem. É na mancha escura da margem que me localizo, braçadas sem rumo não tardam a cansar. É na parte escura do olho de minha própria face que me flerta a vista e me tira da manhã, me atirando por entre as constelações... O fundo preto do olho, abismo negro, mergulha, desaba, se perde, e me condena à mediocridade de querer me conter num quadro. Estarei eu disfarçado de mim mesmo no ângulo errado? A direção do olho vai à intenção do rosto que deseja o tosco, ilude, ilumina, pelo pulo, nu, escuro poço, falso fosso, pupila. Agora, isolado entre quatro paredes, quatro membros que invadem e seguram o tronco. São braços, pernas, de todas as partes, de outras pernas. Outros braços que se abrem em pares, membros são sempre pares, capazes de se deslocar, ir longe, voltar. Os passos olham para os dois lados e atravessam ruas. - Olha!!! – A criatura grita: - Já estou aqui! A Criatura vê praça, ônibus, carrinho de pipoca. Olho, e já viram teu rosto também! Será que era conhecido? Será que já não vi? E se vi, o que interessa? Já vi. E dejaviram muitos de todos vocês. Na rua, na estrada, calçada. No pé, da esquina, de carro, condução, trem, braço cruzado, olho fechado, zem. Na ambulância, cara de horror. Ou rua, pigarro, metrô. Ali! Já vi! Tem? Um olho aqui e o outro também, que eu nunca vi, ou só lembro de sua mochila. Outros rostos bizarros aparecem nos sonhos, e nos sonhos dos outros sonos. Um rosto aqui, um olho ali. Vejo pigarros, passos, bocejos. Esperas partidas, gracejos, ou choros desesperados. Volto ao ônibus, mochilas aos ombros. Uma mala equilibra-se no chão. Um olho aqui, outro acolá. Pode ser como eu, o homem de lá, o de camisa listrada, ou a senhora que está atrás de mim. Parada.


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Saulo Marzochi é poeta, escritor, designer gráfico e artista plástico. Autor de Boca Calada (Rio de Janeiro, 2007).