quinta-feira, setembro 10, 2009




A LENDA DE SÃO CONRADO



Conrado dos Santos Guerreiro
implorou ele mesmo o degredo,
a tortura nas rodas, nos ferros,
o fogo dos hereges, dos feiticeiros.

Atirado ao mar das tormentas,
tragado e cuspido pelas vagas,
tudo era fúria em tons de chumbo,
inferno onde só havia a água
de todos os prantos do mundo.

Deu numa praia.
Acolhido pelos índios tupi,
foi desbatizado Iporanga,
ele que já não tinha mais alma
e cujo nome queria apagar.

As chuvas, então, descansaram.
Dançando em torno à fogueira,
Iporanga, embriagado,
delirava de febres, mas ia
imitando os cantos e os passos
num transe de quase alegria.

Via o outro lado, Porto Galo,
ruas, vilas, amuradas,
familiares, marujos, padres,
mercadores e escravos.

De repente, de uma brisa,
faiscada pelo fogo,
surge a mulher que ele amara
chamada com afeto por "Gávea".

Embora os fizesse ver além,
além do Tejo e das muralhas,
tornou cegos Dois Irmãos de sangue
e em sangue foi banhada.

Por fim, tonto e fraco,
cansado de tentar esquecer,
deixa-se cair no terreiro
entre a bela Gávea adormecida
e um adeus de irmãos derradeiro...



Samira Feldman Marzochi,
10 de setembro de 2009.