A LENDA DE SÃO CONRADO
Conrado dos Santos Guerreiro
implorou ele mesmo o degredo,
a tortura nas rodas, nos ferros,
o fogo dos hereges, dos feiticeiros.
Atirado ao mar das tormentas,
tragado e cuspido pelas vagas,
tudo era fúria em tons de chumbo,
inferno onde só havia a água
de todos os prantos do mundo.
Deu numa praia.
Acolhido pelos índios tupi,
foi desbatizado Iporanga,
ele que já não tinha mais alma
e cujo nome queria apagar.
As chuvas, então, descansaram.
Dançando em torno à fogueira,
Iporanga, embriagado,
delirava de febres, mas ia
imitando os cantos e os passos
num transe de quase alegria.
Via o outro lado, Porto Galo,
ruas, vilas, amuradas,
familiares, marujos, padres,
mercadores e escravos.
De repente, de uma brisa,
faiscada pelo fogo,
surge a mulher que ele amara
chamada com afeto por "Gávea".
Embora os fizesse ver além,
além do Tejo e das muralhas,
tornou cegos Dois Irmãos de sangue
e em sangue foi banhada.
Por fim, tonto e fraco,
cansado de tentar esquecer,
deixa-se cair no terreiro
entre a bela Gávea adormecida
e um adeus de irmãos derradeiro...
Samira Feldman Marzochi,
10 de setembro de 2009.


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