segunda-feira, fevereiro 16, 2015


Lapis Lazuli


Em uma cultura muito antiga, sem nome conhecido, da região que posteriormente fora conquistada pelos nabateus, havia um mito, de registro encontrado na Suméria pelos gregos e depois traduzido pelos mouros da Península Ibérica, que explicava o, digamos, interesse afetivo. Todos os indivíduos nasceriam com uma entidade semiautônoma e invisível aos seres humanos, ligada à espinha dorsal, que poderia ou não subdividir-se em um bom número. Estas entidades, ressentidas por terem nascido nuas, amorfas e invisíveis, tenderiam a procurar corpos de outras pessoas para se vestirem deles, sem nenhuma espécie de consulta ou consentimento. Os indivíduos, deste modo, poderiam reconhecer em outros essências muito particulares, ligando-se a estes de modo recíproco ou desencontrado. Por isso, os sábios desta cultura ensinavam a desfazer os encantos afetivos malogrados batendo duas pedras azuis, uma contra a outra, a fim de romper o cordão que prendia a entidade, até que uma nova, após semanas ou meses, crescesse novamente. Contudo, o procedimento não poderia ser refeito mais de sete vezes, pois a entidade, que não tinha mais que sete vidas, vestir-se-ia, definitivamente, do corpo que lhe deu origem.


Samira Feldman Marzochi, Mitos Inventados.