quinta-feira, maio 28, 2015


Sentido Único



Metrô lotado e cada um é um só.
Quem imaginava que, ao inventar as gentes,
criaria tantas histórias sentidas?
Adivinhar ou planejar isso é muito mais
que criar a vida na Terra.
E olha que não acredito em entidade fundadora,
mas me espanto ao reconhecer:
gente é história sentida.
Tenho vontade de gritar:
"Bonjour, messieurs dames!"
Mas quem sou eu?
Não tenho a autenticidade dos loucos de rua.
Quem sou eu para dar bênçãos
às histórias sentidas de cada um neste vagão
e nos outros vagões lotados desta linha
que cruza as pedras da cidade?
A ideia me comoveu, tudo é ideia que comove
e nada seria se não fosse.
Desisto de enlouquecer e permaneço,
como cada um, em sentido único,
na vastidão do pequeno trecho
até a próxima estação.



Samira Feldman Marzochi
Ana Rosa - Tietê
Manhã, 28/05/2015

terça-feira, maio 19, 2015


Sentimento Puro



Não sei de onde vem minha autoestima. Não tenho senso de localização, nem sei matemática. Isto é, nas duas categorias básicas do entendimento humano, espaço e tempo, sou deficitária. Meu corpo, então, não compensa. O rosto é bonitinho, embora a testa cresça. Em contrapartida, a perda progressiva dos seios e nádegas acompanhada do abdômen que adquire o aspecto de uma pequena calota, conforma uma espécie de ser extraterreno. Outro dia, à meia-luz, enquanto vestia o pijama, vi no espelho um E.T. branco e compacto, desses de filme. Simpático até. Era eu. Eu vim de um planeta sem espaço e sem tempo. Tudo lá é sentimento puro.



Dani Lopes, Geração Star Trek, p.29