quarta-feira, março 29, 2006
POEMA VII
Gosto de estar a teu lado,
Sem brilho.
Tua presença é uma carne de peixe,
De resistência mansa e de um branco
Ecoando azuis profundos.
Eu tenho liberdade em ti.
Anoiteço feito um bairro,
Sem brilho algum.
Estamos no interior duma asa
Que fechou.
Mário de Andrade,
"Poemas da Amiga", 1929-1930.
sexta-feira, março 24, 2006
MARINHA
O barco é negro sobre o azul.
Sobre o azul os peixes são negros.
Desenham malhas negras as redes, sobre o azul.
Sobre o azul, os peixes são negros.
Negras são as vozes dos pescadores,
atirando-se palavras no azul.
É o último azul do mar e do céu.
A noite já vem, dos lados de Burma,
toda negra,
molhada de azul:
— a noite que chega também do mar.
Cecília Meireles
sexta-feira, março 10, 2006
METRO
Clique para ouvir:
http://recherche.ircam.fr/equipes/pcm/marozeau/metro.mp3
Chanson de Juli Manzi & Jeremy Marozeau
Dans le metro,
a Rio
Je balandais mon banjo,
Je tente trois note de bossa,
Je me prends pour Jobim ou Bonfa
Deux petits vieux se moquent de moi
Mais pour qu'ils se prennent c'est vieux la
J'aimerais bien les voir
Jouaient du Prevert et Kosma
Une Latino croisse mon regard
Moi qui en latin suis zero
J'ai plus qu'a perdre mon tempo
Je l'imagine en maillot de bain
ou nue sur la plage le matin
a Rio...
"Cette chanson est le fruit de mon amitie avec Juli. Nous l'avons compose ensemble. J'ai ecris la musique de la premiere partie (style francais), Juli lui a ecris les paroles. Nous avons renverse les roles dans la deuxieme partie: Juli a ecris la musique (style samba) et moi les paroles". (Jeremy Marozeau, le 10.03.06).
quinta-feira, março 09, 2006
segunda-feira, março 06, 2006
LIVRO
Sigo a trilha metafísica
que é o meu caminho certo
de brumas e insetos.
Pela encosta do morro
vou escorada em raízes,
tronco, coração.
Sigo veio de rio,
lambuzo a argila entre girinos
e escorro ao centro.
Trago a flor exótica
que o diabo arrancou da frincha
da gruta funda
e me deu.
Me troco bem com répteis,
ratos, bichos cascudos
E com o anjo debruçado
à beira da laguna.
Dou em página nenhuma.
Samira Feldman Marzochi,
16 de janeiro de 2004.
domingo, março 05, 2006
Três Cenas para Maiacovski
CENA 1 – INT. NOITE – CASA DO POETA
Na periferia pobre de Moscou
um apê social club penuriante my friends
Ele, que não é Tim mas é Maia
passando por uma fase ultra racional
administra à base de idéias.
Entre bolas tacadas vodka
ócio
cada
vez
mais inventivo
O homem cada vez mais convencido
a plenos pulmões bradeja
como uma luz cintilante
num fim de tarde tristonho:
- Não é tempo de escrever sobre rosas
afiem seus versos e prosas
ninguém põe fim ao sonho!
Um brinde imediato levantam
Amigos de todas as letras
Otto Lilia Burliuk Kliebnikov Kroutchonik
Iluminação escassa
Comida pouca
Sobre a mesa servem apenas bolas de bilhar.
CENA 2 – EXT. DIA CLARO – INTERIOR DE UM BONDE
No trajeto rumo ao centro
vê o dedo em riste de Lênin
ilustrando um cartaz na janela
de um,
como tantos eqüidistantes edifícios
da Kutususki Prospect
Duas quadras antes do rio congelar.
Vou visitar meu museu
Agora sou museu, rua, estátua
e livros
Fiz da vida um desafio
Não a tive sob controle
é certo
Mas escolhi a data da minha morte
respirei fundo o cheiro de aço
sabendo do último minuto
Fodam-se os críticos
e as caspas
Que me ponha fim uma bala
e uma balada de balalaika
se faça ouvir no paraíso vermelho
Meus irmãos me aguardam
Vejo vindo a alvura da múmia de Ulianov
Cada vez mais distante desse inferno de lamúrias!
Quando dizem que tenho escrito pouco
cito os 17 anos da greve de Valéry
Diecisieste años sin una pica de un poema
Pero con corazón de poeta
una viez poeta...
CENA 3 – INT. ESTÚDIO – DEPOIMENTO DO DIRETOR
Camarada, ei camarada!
Muito cuidado, ou te cantarei uma elegia
Sinto que estás com o coração grande, grávido de suicídio
Em ti a anatomia ficou louca
És todo coração
Ele bate em todo teu corpo
E aí é que mora o perigo!
Derrete (com punhados de sal)
esta dor que te atormenta
Com pá pesada remove estes montes de desilusão
Limpa o caminho
para que uma nova estrela surja
apontando com cinco braços
os continentes de uma só nação
Para que o amor expanda
e ninguém volte a morrer
por ele.
( Podes crer que é bem no Brasil
na lonjura triste dos trópicos
que há um homem feliz
não se sabe por quanto tempo )
Poema-roteiro de Juli Manzi, compositor e pesquisador em poéticas digitais.
Na periferia pobre de Moscou
um apê social club penuriante my friends
Ele, que não é Tim mas é Maia
passando por uma fase ultra racional
administra à base de idéias.
Entre bolas tacadas vodka
ócio
cada
vez
mais inventivo
O homem cada vez mais convencido
a plenos pulmões bradeja
como uma luz cintilante
num fim de tarde tristonho:
- Não é tempo de escrever sobre rosas
afiem seus versos e prosas
ninguém põe fim ao sonho!
Um brinde imediato levantam
Amigos de todas as letras
Otto Lilia Burliuk Kliebnikov Kroutchonik
Iluminação escassa
Comida pouca
Sobre a mesa servem apenas bolas de bilhar.
CENA 2 – EXT. DIA CLARO – INTERIOR DE UM BONDE
No trajeto rumo ao centro
vê o dedo em riste de Lênin
ilustrando um cartaz na janela
de um,
como tantos eqüidistantes edifícios
da Kutususki Prospect
Duas quadras antes do rio congelar.
Vou visitar meu museu
Agora sou museu, rua, estátua
e livros
Fiz da vida um desafio
Não a tive sob controle
é certo
Mas escolhi a data da minha morte
respirei fundo o cheiro de aço
sabendo do último minuto
Fodam-se os críticos
e as caspas
Que me ponha fim uma bala
e uma balada de balalaika
se faça ouvir no paraíso vermelho
Meus irmãos me aguardam
Vejo vindo a alvura da múmia de Ulianov
Cada vez mais distante desse inferno de lamúrias!
Quando dizem que tenho escrito pouco
cito os 17 anos da greve de Valéry
Diecisieste años sin una pica de un poema
Pero con corazón de poeta
una viez poeta...
CENA 3 – INT. ESTÚDIO – DEPOIMENTO DO DIRETOR
Camarada, ei camarada!
Muito cuidado, ou te cantarei uma elegia
Sinto que estás com o coração grande, grávido de suicídio
Em ti a anatomia ficou louca
És todo coração
Ele bate em todo teu corpo
E aí é que mora o perigo!
Derrete (com punhados de sal)
esta dor que te atormenta
Com pá pesada remove estes montes de desilusão
Limpa o caminho
para que uma nova estrela surja
apontando com cinco braços
os continentes de uma só nação
Para que o amor expanda
e ninguém volte a morrer
por ele.
( Podes crer que é bem no Brasil
na lonjura triste dos trópicos
que há um homem feliz
não se sabe por quanto tempo )
Poema-roteiro de Juli Manzi, compositor e pesquisador em poéticas digitais.
sexta-feira, março 03, 2006
CORDEL DO OCO DO SOM
Voz, o primeiro instrumento
o que escuto por dentro
ou de fora também
É de quem?
É de alguém que não sei muito bem
como é, como está
pra onde vai, de onde vem
Só se sabe que é força de vida
de ato, de ação
de estancar a ferida
calcada na pele,
no peito, na lida
da gente tão simples
e do meu irmão
Ela sai e percorre avenida
estrada, caminho
fronteira e nação
Está no ar, está no ar, está no fio e na fibra
no ventre do ouvido da vida
no fundo, no fim e no vão
E se é seca só seca
o sentido do som, do sonido
do sim e do não
E se rasga só roça
o centeio da cela
sólida da situação
Se doce adoça
a saliva da sala
secreta do seu coração
Se amarga
amargou margarida
amor ou mar à vista
mar de perdição
Voz o primeiro instrumento
o que escuto por dentro
som introdução
É a pele, é o couro, é o arco, é o sopro
cordas percutidas
na imaginação
Poema de Uliana Dias, cantora e compositora, que recentemente foi finalista do Festival da Cultura com "Romance Pós-Moderno", música sobre o mini-conto de Samira F. Marzochi.
o que escuto por dentro
ou de fora também
É de quem?
É de alguém que não sei muito bem
como é, como está
pra onde vai, de onde vem
Só se sabe que é força de vida
de ato, de ação
de estancar a ferida
calcada na pele,
no peito, na lida
da gente tão simples
e do meu irmão
Ela sai e percorre avenida
estrada, caminho
fronteira e nação
Está no ar, está no ar, está no fio e na fibra
no ventre do ouvido da vida
no fundo, no fim e no vão
E se é seca só seca
o sentido do som, do sonido
do sim e do não
E se rasga só roça
o centeio da cela
sólida da situação
Se doce adoça
a saliva da sala
secreta do seu coração
Se amarga
amargou margarida
amor ou mar à vista
mar de perdição
Voz o primeiro instrumento
o que escuto por dentro
som introdução
É a pele, é o couro, é o arco, é o sopro
cordas percutidas
na imaginação
Poema de Uliana Dias, cantora e compositora, que recentemente foi finalista do Festival da Cultura com "Romance Pós-Moderno", música sobre o mini-conto de Samira F. Marzochi.








