segunda-feira, maio 29, 2006
domingo, maio 28, 2006
POESIA
Gosto de abraçar a rocha
e beber o risco quente do sol
Meu interior é uma gruta
forrada de musgos coloridos
Tenho a liberdade da pedra
Vivo das protuberâncias, reentrâncias
obscuridades
E preencho de estalidos, pingos
meu oco
A matéria negra de um absoluto
moldável
Aqui me concentro
Um fóssil marca o futuro
Sou um bicho rastejante
de tristeza selvagem
Minha gruta é uma trinca do universo
samira feldman marzochi
sexta-feira, maio 19, 2006
BAILE DE LAS ESFERAS
o Todo para arrullar
Él usa sus manos delgadas
Amasa la arcilla por entre nieblas
Mezcla cepa, piedritas, moho
Moldea esferas de tinieblas
Tira los globos al infinito
que juntos siguen elípticos
Se golpean, estallan, hacen luz
Y calmos toman su curso
Él limpia las manos
cansado
Estirase por el espacio
Y ronca bajo el baile
frío y largo
Samira Feldman Marzochi
Revisão de Daniela Labra
Él usa sus manos delgadas
Amasa la arcilla por entre nieblas
Mezcla cepa, piedritas, moho
Moldea esferas de tinieblas
Tira los globos al infinito
que juntos siguen elípticos
Se golpean, estallan, hacen luz
Y calmos toman su curso
Él limpia las manos
cansado
Estirase por el espacio
Y ronca bajo el baile
frío y largo
Samira Feldman Marzochi
Revisão de Daniela Labra
quinta-feira, maio 11, 2006
Um quase-conto
Ele era um sujeito conectado, não havia dúvidas.
No dia de seu aniversário acordou cedo como de costume. Tomou banho - com a habitual ducha fria no final -, fez café, descongelou o pão, apanhou o jornal atrás da porta. Prestou bastante atenção nos acontecimentos do dia e, enquanto mastigava, percebia que nada de extraordinário havia acontecido. Nada do que se lembrar ou associar ao dia do seu aniversário.
Ele era um sujeito solitário, não havia dúvidas.
Já satisfeito, rumou de havainas ao escritório. Trabalhava em casa, em um puxadinho da varanda. Há cinco anos havia sido demitido e, desde então, dedicava-se ao recrutramento de lista de e-mails. Era um profissional do span. Aumente sua Renda, Enlarge your Penis, Leitura Dinâmica e Memorização, Flagras na Festas Universitárias, MBAs de Gestão e Marketing e por aí vai. Ligou o computador.
No dia de seu anversário, o homem-span não recebeu nenhum telefonema, a não ser uma gravação de felicitações da Central de Atendimento Vivo. Mas sua caixa postal eletrônica estava cheia. Votos de parabéns do Banco, da rede de Farmácias, do Supermercado da esquina e da Livraria virtual. Além de vários e-mails spans. Trabalhe em Casa, Aprenda a Seduzir, Flagras Amadores na Internet, If you have always dreamed of being called a sex machine...
No dia se deu aniversário, José Roberto, o conectado-solitário, teve dúvidas.
Ilana Feldman, 11.05.06
sexta-feira, maio 05, 2006
quarta-feira, maio 03, 2006
TREM NOTURNO
Luisa Deane
Viajo na velocidade do trem negro
Minhas entranhas iluminadas só pelos sonhos
Meu coração amarrado só ao companheiro
Ao coração de ferro e fogo do trem noturno
Ah, meu amante de sangue, cigano de metal,
Que importa se não és humano
se humana é tua alma antiga,
meu cavaleiro de aço, meu príncipe ardente,
bala de fogo e meteoro onde viaja meu destino,
cativo do teu e solidário do teu,
companheiro voraz e louco e lacrimoso
Ah, meu cigano, que importa
se juntos acoplados cavalgamos a ânsia
e no âmago da noite e no pico do sol
e no miolo da alma dos homens plantamos
a semente subversiva e doce da aventura
Ah, companheiro, contigo penetro a sombra
e a bruma dos enigmas
e transpassando os ossos das cidades
decifro a luz
E guardo com desvelo entre as mãos
sua rósea pomba
a carne, o sangue e o medo pulsando entre meus dedos
pulsando entre meus dedos o signo do homem
e o signo do tempo
as garras do pássaro cravadas no meu peito
e as cicatrizes gotejando o leite do meu sonho
e da minha cinza
Ah, escravidão voraz a nossa, companheiro,
meu coração iluminado só pelos sonhos
meu coração amarrado aos trilhos do teu sangue
ao coração de ferro e fogo do trem noturno.
(Rio-São Paulo, agosto de 1980)
Viajo na velocidade do trem negro
Minhas entranhas iluminadas só pelos sonhos
Meu coração amarrado só ao companheiro
Ao coração de ferro e fogo do trem noturno
Ah, meu amante de sangue, cigano de metal,
Que importa se não és humano
se humana é tua alma antiga,
meu cavaleiro de aço, meu príncipe ardente,
bala de fogo e meteoro onde viaja meu destino,
cativo do teu e solidário do teu,
companheiro voraz e louco e lacrimoso
Ah, meu cigano, que importa
se juntos acoplados cavalgamos a ânsia
e no âmago da noite e no pico do sol
e no miolo da alma dos homens plantamos
a semente subversiva e doce da aventura
Ah, companheiro, contigo penetro a sombra
e a bruma dos enigmas
e transpassando os ossos das cidades
decifro a luz
E guardo com desvelo entre as mãos
sua rósea pomba
a carne, o sangue e o medo pulsando entre meus dedos
pulsando entre meus dedos o signo do homem
e o signo do tempo
as garras do pássaro cravadas no meu peito
e as cicatrizes gotejando o leite do meu sonho
e da minha cinza
Ah, escravidão voraz a nossa, companheiro,
meu coração iluminado só pelos sonhos
meu coração amarrado aos trilhos do teu sangue
ao coração de ferro e fogo do trem noturno.
(Rio-São Paulo, agosto de 1980)
MARINHA
Luisa Deane
Quero contar-te hoje das plantas marinhas
Desse verde que dança abismos
Desse outro que reverdece a alma
Quero contar-te dessas profundezas
desses horizontes
Que meu pé não toca
Nem qualquer razão resvala
Porque meus olhos são só reflexo
De mares e abismos que seduzem
Tragam-me inteira o verde, azul e prata,
ao som das ondas mudas
exclusivamente solares
E desapareço nos braços lascivos das algas
Confundo-me de peixes, conchas e pedras
Nesse ritmo de plumas
sedas
serpentes.
Sou toda sal e perfil incerto
Perco-me entre cores e pequenas distâncias.
Suga-me esse verde sinuoso das plantas marinhas
Que às vezes dança abismos
Outras, reverdece a alma
Porque meus olhos são só reflexo
profundezas e horizontes que meu pé não toca
nem qualquer razão resvala.
Quero contar-te hoje das plantas marinhas.
(Espanha-Ibiza, 1978)
Quero contar-te hoje das plantas marinhas
Desse verde que dança abismos
Desse outro que reverdece a alma
Quero contar-te dessas profundezas
desses horizontes
Que meu pé não toca
Nem qualquer razão resvala
Porque meus olhos são só reflexo
De mares e abismos que seduzem
Tragam-me inteira o verde, azul e prata,
ao som das ondas mudas
exclusivamente solares
E desapareço nos braços lascivos das algas
Confundo-me de peixes, conchas e pedras
Nesse ritmo de plumas
sedas
serpentes.
Sou toda sal e perfil incerto
Perco-me entre cores e pequenas distâncias.
Suga-me esse verde sinuoso das plantas marinhas
Que às vezes dança abismos
Outras, reverdece a alma
Porque meus olhos são só reflexo
profundezas e horizontes que meu pé não toca
nem qualquer razão resvala.
Quero contar-te hoje das plantas marinhas.
(Espanha-Ibiza, 1978)





